terça-feira, 18 de junho de 2013

A vaia saiu às ruas

 
Aviso ao leitor: esta é apenas uma primeira aproximação ao que está acontecendo no Brasil. Sou obrigada a concordar com Ângela Randolpho Paiva, do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, que admitiu honestamente à GloboNews: "Estamos atordoados".
Com razão. O Brasil não é um país de sair à rua, salvo em Mundiais. Que saia agora, em massa, ainda por cima para protestar também contra as obras da Copa, é de atordoar qualquer um.
Mas jornal circula todos os dias, e não consigo silenciar à espera de recolher os elementos indispensáveis a uma análise mais aprofundada. É preciso pincelar algumas ideias, apesar de os protestos do dia estarem apenas começando, por imposição dos horários de fechamento.
O que já está evidente é que a vaia ouvida no sábado no estádio Mané Garrincha saiu às ruas. Não adianta o petismo e a mídia chapa-branca tentarem dizer que a vaia partiu da elite, única em condições de pagar o preço abusivo dos ingressos.
Nas ruas do Rio ontem, havia uma vaia clara, na forma de uma faixa: "Fora Dilma/Fora Cabral".
Tanto o Rio quanto Brasília, é sempre bom lembrar, são praças fortes do lulismo. Que apareça um cartaz como esse, ainda que isolado, é eloquente do estado de insatisfação de uma parcela importante do público.
Mas é fundamental ter em conta duas coisas:
1 - Dilma não é o alvo isolado dos protestos. Nem sei se é o alvo principal. Mas é alvo.
Alvos também são os políticos em geral, de que dá prova a concentração em Brasília diante do Congresso Nacional. O volume de público no Rio, governado pelo PMDB, e em São Paulo, governado pelo PSDB, demonstra que a classe política brasileira está fracassando na sua missão de representar o público, pelo menos o público mobilizado.
A massa no Rio era, aliás, impressionante; desde as Diretas Já, não se via algo parecido.
2 - Há uma aparente contradição, de todo modo, entre a aprovação popular dos governos Dilma e Alckmin, aferida em pesquisas recentes, e o volume e a permanência dos protestos. Haveria uma maioria silenciosa? Talvez, mas o fato de que 55% dos consultados pelo Datafolha digam que aprovam os protestos é um forte chamado de atenção.
Por fim, sobre o que querem os manifestantes, já muito além do passe livre, quem parece ter razão é Juan Arias, o excelente correspondente de "El País": "Querem, por exemplo, serviços públicos de primeiro mundo; querem uma escola que, além de acolhê-los, lhes ensine com qualidade, o que não existe; querem uma universidade que não seja politizada, ideologizada ou burocrática. Querem que ela seja moderna, viva, que os prepare para o trabalho futuro".
Mais: "Querem hospitais com dignidade, sem meses de espera, onde sejam tratados como seres humanos, e querem, sobretudo, o que ainda lhes falta politicamente: uma democracia mais madura, em que a polícia não atue como na ditadura".
"Querem um Brasil melhor. Nada mais."
Como dizia a faixa que abria a passeata no Rio: "Não é por centavos; é por direitos".
Clóvis Rossi Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site:
  • crossi@uol.com.br 
  • fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2013/06/1296793-a-vaia-saiu-as-ruas.shtml
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    Brasil vive 'sonho de democracia' com protestos, diz 'El País'




    Brasil vive 'sonho de democracia' com protestos, diz 'El País'
    "protestos no Brasil (Reuters)"
    Os protestos que reuniram pelo menos 200 mil pessoas nas ruas das principais capitais brasileiras na segunda-feira foram destaque na imprensa internacional. Jornais importantes como o americano New York Times, o francês Le Monde e o espanhol El País estampavam na capa de seus portais na internet, na manha desta terça-feira, galerias com fotos dos manifestantes no Rio de Janeiro e em São Paulo.
    'Conflito Social no Brasil' era o título que o El País dava na primeira página de seu site para atrair os leitores para quatro artigos relacionados às manifestações no Brasil.
    Na análise intitulada 'Brasil: Sonho ou Pesadelo?', o diário espanhol diz que 'ninguém se atreve a dar um nome à surpresa que foi ver o país sair às ruas convocado apenas pela internet e, às vezes, por simples adolescentes'.
    'O governo está perplexo', diz o texto, assinado pelo correspondente Juan Arias. 'Ninguém esperava que esta multidão, formada por pessoas de todas as idades e de todos os grupos sociais saíssem às ruas de repente para dizer: 'Queremos mudar o Brasil'.
    Angústia
    O artigo diz que, para muitos brasileiros, a demonstração popular de segunda-feira foi 'um sonho de democracia, um despertar de anos de silêncio para expressar que não estão satisfeitos com a qualidade de vida que o governo lhes oferece, com a corrupção e com o uso indevido do dinheiro público, começando pelos milhares gastos na preparação da Copa do Mundo.'
    O texto pondera que o sonho que o Brasil viveu 'atônito' na noite de segunda-feira ameaçou acabar em pesadelo após cenas de violência por parte de alguns grupos que tentaram destruir a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e invadir o Congresso, em Brasília.
    O El País diz que os brasileiros que continuarão protestando nos próximos dias não lutam contra uma ditadura, nem contra o governo.
    'Eles querem mais. A grande incógnita é como vão consegui-lo, quem cristalizará este protesto sem líderes', afirma o texto.
    'Se existe uma angústia difusa nas ruas, essa angústia se traduziu em um alerta que chegou ao Palácio Presidencial, onde se senta a presidente Dilma Rousseff, antiga guerrilheira e lutadora contra a ditadura militar quando tinha a idade dos que esta noite tentaram ocupar o Congresso', afirma o texto.
    'FT'
    Artigo publicado no diário financeiro britânico Financial Times diz que quando o ex-presidente Lula conseguiu levar a Copa de 2014 para o Brasil, 'achou que tinha marcado um gol que comemoraria a ascensão do país como uma potência emergente'.
    'Agora ele deve estar vendo com surpresa a reação do movimento contra o aumento das passagens de ônibus, que gostaria de dar-lhe um cartão amarelo por causa da Copa'.
    O texto segue dizendo que os manifestantes estão cansados 'de uma classe política que consideram ser corrupta e moralmente falida', e estenderam seus alvos para incluir a Copa do Mundo e seu principal teste, a Copa das Confederações.
    'Os manifestantes veem estes eventos como uma chance para políticos roubarem grandes somas de dinheiro dos orçamentos generosos alocados para reformar e construir estádios para os jogos'.
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    fonte: http://noticias.br.msn.com/mundo/brasil-vive-sonho-de-democracia-com-protestos-diz-el-pa%C3%ADs-1


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