sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Aprovado nos festivais estrangeiros, ‘Flores raras’ prepara agora sua estratégia para chegar ao Oscar






A brasileira Gloria Pires e a australiana Miranda Otto, como Lota e Bishop: elogios na imprensa americana
Foto: Divulgação





A brasileira Gloria Pires e a australiana Miranda Otto, como Lota e Bishop: elogios na imprensa americana Divulgação
RIO - Visto por cerca de 161 mil pagantes em duas semanas de exibição no Brasil, “Flores raras”, de Bruno Barreto, que já viajou por dez festivais no exterior, incluindo os de Berlim (onde ganhou prêmio de público) e Tribeca, prepara agora sua marcha para ganhar os mercados estrangeiros. Na estratégia armada pelo casal de produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto, o circuito dos Estados Unidos é o primeiro da fila. Produzida ao custo de R$ 13 milhões, a história de amor entre a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (1910-1967), vividas por Miranda Otto e Gloria Pires, estreia no primeiro fim de semana de dezembro em Nova York e em Los Angeles, a fim de se habilitar para disputar o Oscar.
— Apesar de já termos iniciado negociações com a Alemanha, com países escandinavos, com a Coreia do Sul e com algumas nações do Oriente Médio, o filme só vai entrar em cartaz na Europa depois de estrear em território americano — diz Luiz Carlos Barreto, o Barretão, lembrando que sua distribuidora nos EUA é a Wolfe, a mesma do premiado “Tomboy” (2011), de Céline Sciamma.
Pelas regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, “Flores raras” não pode concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro por ser majoritariamente falado em inglês. Mas, para Lucy, ele tem chance de disputar outras categorias.
— Além das duas atrizes, a direção de arte, na caracterização do Rio de Janeiro dos anos 1950 e 60, é um ponto para indicações aos prêmios — afirma a produtora, que encampou o filme como um projeto pessoal desde 1995, quando adquiriu os direitos do livro “Flores raras e banalíssimas” (Rocco), de Carmen L. Oliveira, centrado na paixão de Lota e Elizabeth.
Antes da estreia de “Flores raras” nos EUA, um agente de vendas internacionais leva o filme para o Festival de Toronto (de 5 a 15 de setembro), no Canadá. Lá a produção terá exibições paralelas à programação oficial do evento, considerado a melhor vitrine para longas que buscam visibilidade aos olhos da Academia.
Durante o Festival de Berlim, em fevereiro, revistas especializadas em cinema dos EUA como a “Screen International” elogiaram o vigor dramático de “Flores raras”. Em seu texto para “The Hollywood Reporter”, a crítica Deborah Young ressaltou que a experiência de Bruno Barreto na indústria americana, com longas como “Atos de amor” (1996) e “Assassinato sob duas bandeiras” (1990), deu ao cineasta domínio da construção de personagem. Deborah ainda elogiou a maneira como o diretor administra duas atrizes de perfil e bagagem cultural tão diferentes como Miranda e Glória para relatar o romance entre Elizabeth e Lota, indo além do perfil de filme GLS.
— Em 1959, quando estava grávida de minha filha (a também produtora) Paula, eu conheci Lota e Bishop, aqui no Brasil. Assisti da casa onde vivi durante anos, no Flamengo, ao processo de construção do Aterro, sob os cuidados de Lota. Nosso filme é um resgate da memória da Lota e de sua importância para esta cidade — diz Lucy Barreto, rebatendo as críticas, que hoje correm na internet, de que o filme não faz menção à participação do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) na concepção do Aterro. — Ele não é um filme sobre arquitetura. É um filme sobre duas mulheres e o amor, com licenças poéticas.
Em maio, “Flores raras” foi exibido no Marché du Film do Festival de Cannes, e foi a produção latino-americana mais elogiada entre os distribuidores internacionais, seguida pelo mexicano “Heli”, de Amat Escalante. Até dezembro, o filme será exibido nos festivais de Haifa (Israel), Internacional de Cine de Viña del Mar (Chile), Mar Del Plata (Argentina) e Thessaloniki (Grécia).
— O aprisionamento dos filmes brasileiros ao mercado interno é uma armadilha para nossa indústria — diz Barretão. — Temos, apesar de toda a burocracia no setor audiovisual, potencial para exportar nossos filmes, diante da forte demanda estrangeira acerca da cultura brasileira. É importante intensificar a carreira internacional de nosso cinema.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/aprovado-nos-festivais-estrangeiros-flores-raras-prepara-agora-sua-estrategia-para-chegar-ao-oscar-9749772#ixzz2dSp8rNm2
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Entrevista

09/11/2012 18h47 - Atualizado em 14/08/2013 18h27

Tracy Middendorf

Americana está em 'Flores Raras', no qual fala português

Longa que narra o romance entre a arquiteta Lota de Macedo Soares e a poetisa Elizabeth Bishop, Flores Raras conta com duas atrizes estrangeiras entre as protagonistas. Uma delas é a americana Tracy Middendorf, que vive Mary, companheira de Lota por mais de uma década – a outra é a australiana Miranda Otto. Com produções como as séries “Barrados no Baile”, “24 Horas”, “CSI” e “Boardwalk Empire”, além do filme “Missão Impossível 3”, no currículo, a atriz conta um pouco da experiência de filmar no Brasil nesta entrevista: “Em duas semanas, tive de soar fluente em português”.
Quem é a Mary e qual é a participação dela na história de 'Flores Raras'?
A Mary era uma dançarina que estudou no Vassar College (prestigiada escola de artes liberais), em Nova York, e encontrou a Lota em um navio no qual estava trabalhando. Obviamente, elas se sentiram atraídas e algo aconteceu entre as duas na ocasião (risos). Então, ela decidiu se mudar para o Brasil e viveu com a Lota, de quem foi companheira por dez anos. Então, sua amiga, Elisabeth Bishop, se torna famosa e vem visitá-la. É quando Lota deixa Mary para se relacionar com Bishop. Apesar disso, Mary continua vivendo em uma casa anexa à de Lota, com quem havia adotado uma criança.

O que te atraiu neste projeto?
Eu li o roteiro e adorei as personagens. Além disso, conhecia o trabalho do Bruno Barreto e precisava vir ao Brasil! Então, foi muito fácil decidir participar. 

Como você resolveu a questão da língua para interpretar a Mary, que viveu por muito tempo no Brasil?
Quando eu cheguei ao Brasil, só sabia falar “obrigada” em português. Mesmo assim, acho que falava errado: “obrigado” (risos). Como meu marido já havia viajado bastante pelo Brasil e sabia um pouquinho mais, tentou me ajudar. Eu precisei aprender um pouco de português porque a Mary era fluente na língua. Então, em duas semanas tive de soar fluente. O primeiro passo foi aprender os sons peculiares do português, ou seja, que não temos no inglês. Palavras como “não” e “fazer”, que têm sons diferentes para mim. Então, tive de trabalhar duro com uma fonoaudióloga todos os dias no set. 

O que você aprendeu da língua exatamente?
Aprendi a dizer as minhas falas no filme, mas tentei também aprender um pouco mais para poder improvisar, embora seja difícil fazer isso em uma língua que você não domina. “Eu não posso fazer nada” e “Isso não tá certo” foram algumas dessas frases. Mas, no filme, a pronúncia ficou melhor que agora (risos).


 http://globofilmes.globo.com/noticia-561-Tracy-Middendorf.htm
 

Elizabeth Bishop, a poetisa americana de ‘Flores Raras’


Meire Kusumoto
Quando o nascimento da poetisa americana Elizabeth Bishop (1911-79) completou 100 anos, em fevereiro de 2011, as comemorações no Brasil foram tímidas, sem grandes eventos ou relançamentos. Uma injustiça com um dos maiores nomes da poesia americana do século XX, que viveu por cerca de 20 anos, entre idas e vindas, em terras brasileiras, de onde saiu boa parte de sua produção. Uma injustiça que o livro Conversas com Elizabeth Bishop (Autêntica Editora, 192 páginas, 39,90 reais), uma reunião de entrevistas com a escritora lançada agora, e o filme Flores Raras, do cineasta Bruno Barreto, que entra em cartaz nesta sexta-feira, ajudam a desfazer.

LEIA TAMBÉM: ‘Queria falar da perda’, diz Bruno Barreto sobre ‘Flores Raras’

Foi no Brasil que Elizabeth viveu dois momentos cruciais, costumeiramente os mais lembrados quando se trata da biografia da poetisa: o anúncio de que ela tinha ganhado o Prêmio Pulitzer, em 1956, e o seu intenso relacionamento amoroso com a arquiteta carioca, embora nascida em Paris, Maria Carlota de Macedo Soares (1910-67), entre 1951 e 1967, quando Lota, como era chamada, cometeu suicídio. O romance deu origem ao livro Flores Raras e Banalíssimas (Rocco, 248 páginas, 34,50 reais), da escritora Carmen Oliveira, que acaba de ganhar nova edição de carona no filme de Barreto, ao qual serviu de base.


MAIS: ‘Flores Raras’ será um filme “para o mundo”, diz Bruno Barreto

Biografia - Quando embarcou no navio SS Bowplate em Nova York rumo ao Brasil, em 1951, Elizabeth Bishop tinha 40 anos e planos de viajar pela América do Sul em busca de um sentido para a vida, até então marcada por perdas. Seu pai, William Thomas Bishop, morreu de insuficiência renal crônica quando ela tinha apenas oito meses e, a mãe, Gertrude, abalada, foi aos poucos perdendo o equilíbrio mental. Em 1915, mãe e filha se mudaram para Nova Escócia, no Canadá, onde residia a família de Gertrude e onde ela se internou no ano seguinte em uma clínica psiquiátrica. Elizabeth nunca mais veria a mãe, que em 18 anos morreria no mesmo hospital.
Sem os pais, a futura poetisa ficou sob os cuidados dos avós maternos até 1917, quando foi assumida pelos paternos e levada de volta para a sua cidade natal, Worcester, em Massachusetts. Ainda que tivesse conforto no lar dos abastados Bishop, Elizabeth se sentia só e abandonada, situação que piorou quando desenvolveu asma e uma série de alergias, que a impediram de frequentar a escola regular. A solidão era um mal que ela custou a superar: em 1948, escreveria para o amigo e poeta Robert Lowell, dizendo que era a pessoa mais solitária que já havia existido. Ao chegar ao Brasil, contudo, se sentiria em casa. Se não pelo próprio país, ao menos pela relação com Lota.
No ano seguinte, foi morar com uma tia e seu marido, Maude e George Shepherdson, que eram pagos para cuidar da menina, mas davam afeto e a deixavam visitar a família nas férias. Educada em casa, Elizabeth teve professores particulares e amplo acesso à biblioteca da tia, onde havia volumes de poetas como Robert Browning, Alfred Tennyson e Henry David Thoreau. Ela chegou a frequentar a escola por um ano, entre 1926 e 27, mas a sua educação formal só começou de fato em 1928, quando foi enviada para um internato na cidade de Natick. Em 1930, ela iniciou o ensino superior na Vassar College, em Poughkeepsie, estado de Nova York, onde se formou em Literatura Inglesa. Sem necessidade de trabalhar graças à herança que o pai, dono de uma construtora, havia deixado, após a formatura se dedicou a viajar e a escrever o primeiro livro, Norte e Sul, publicado em 1946, poucos anos antes de deixar os Estados Unidos.

Conheça as principais obras de Elizabeth Bishop

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Norte & Sul / North & South (1946)

Primeiro livro de poesia de Elizabeth Bishop, foi publicado enquanto a poetisa ainda estava nos Estados Unidos, em 1946. A obra reúne poemas escritos em diversos lugares dos EUA e em Paris, frutos das muitas viagens que a escritora fez durante a juventude, entre os anos 1930 e 40. No Brasil, algumas poesias de Norte & Sul foram publicadas no livro Poemas Escolhidos (tradução de Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras, 416 páginas, 44,50 reais), um dos dois únicos volumes de versos (ambos coletâneas) de Elizabeth lançados no país pela Companhia das Letras. O outro é Poemas do Brasil, atualmente esgotado.
 
Chemin de Fer
 
Sozinha nos trilhos eu ia,
coração aos saltos no peito.
O espaço entre os dormentes
era excessivo, ou muito estreito.
 
Paisagem empobrecida:
carvalhos, pinheiros franzinos;
e além da folhagem cinzenta
vi luzir ao longe o laguinho
 
onde vive o eremita sujo,
como uma lágrima translúcida
a conter seus sofrimentos
ao longo dos anos, lúcida.
 
O eremita deu um tiro
e uma árvore balançou.
O laguinho estremeceu.
sua galinha cocoricou.
 
Bradou o velho eremita:
“Amor tem que ser posto em prática!”
Ao longe, um eco esboçou
sua adesão, não muito enfática.
(Tradução de Paulo Henriques Britto)

O Brasil e a obra –
Elizabeth desembarcou em Santos (SP), de onde seguiu de trem até o Rio. Ao chegar na cidade, foi recebida pela dançarina de balé Mary Morse, ex-colega de escola em NY, e sua companheira, Lota, que lhe ofereceram hospedagem por quanto tempo desejasse. E a estada no país, programada para durar algumas semanas, estendeu-se por duas décadas. No começo, Elizabeth e Lota, de personalidades opostas, se estranharam. Até a escritora ter alergia a um caju, a arquiteta cuidar dela e o inevitável acontecer.

Por cerca de dezesseis anos, Elizabeth viveu ao lado de Lota, de personalidade forte e expansiva, contrastante com seu jeito de ser, retraído e reservado – resultado, possivelmente, da infância traumática sem os pais. Paulo Henriques Britto, principal tradutor da autora no Brasil, lembra que, antes do Brasil, apenas no Canadá, onde viveu por seis anos, ela se sentiu acolhida.
Para Britto, é notável em suas crônicas a presença de temas ligados à infância e ao tempo passado junto à família da mãe, cujo afeto lembrava vagamente o do povo brasileiro. Mesmo imersa em um ambiente que sentia caloroso, contudo, Elizabeth manteve o seu estilo discreto, evitando o tom confessional, tanto em sua prosa quanto em sua poesia. Em 1955, ela recebeu o Prêmio Pulitzer por Poems: North and South – A Cold Spring, seu segundo livro, escrito no Brasil, e o National Book Award por The Complete Poems, de 1969.

Ao longo das décadas de 1950 e 60, o relacionamento com Lota foi se tornando difícil. Cada uma se isolava em suas atividades. A arquiteta, amiga do então governador do Rio, Carlos Lacerda, estava tomada pelo projeto do Aterro do Flamengo, que idealizou e executou. Sem diploma, a autodidata Lota só ficou à frente do trabalho por sua amizade com Lacerda, embora tivesse méritos. Tanto o aterro quanto a Fazenda Samambaia, onde morava quando Elizabeth chegou, são marcos da arquitetura brasileira moderna, em que a funcionalidade se une à beleza.
Ao mesmo tempo em que a vida com Lota se deteriorava, a agitação em meio ao golpe militar de 1964 também incomodava a poetisa, que fugia de assuntos políticos. Sentindo-se mais uma vez abandonada, ela se afogou no álcool, vício antigo que ia e voltava. Em busca de um emprego, Elizabeth decidiu se mudar para Nova York, para onde Lota seguiu, em 1967, para um curto reencontro. Deprimida, a arquiteta se mataria pouco depois, de uma overdose de tranquilizantes.
Elizabeth nunca se recuperou do choque provocado por mais uma perda. Tentou reestabelecer sua vida no Brasil, mas deixou o país novamente por questões políticas, se estabelecendo em 1970 nos Estados Unidos, após um convite para lecionar na Universidade de Harvard, onde ficou até o ano de sua morte, em 1979, por um aneurisma cerebral.
Das injustiças do Brasil com Elizabeth, tem-se a publicação apenas parcial de sua obra. Segundo Paulo Henriques Britto, nenhum livro foi publicado integralmente no país e os poemas só aparecem em duas coletâneas, Poemas do Brasil, de 1999, atualmente esgotada, e Poemas Escolhidos, de 2012, ambas da Companhia das Letras. Mesmo agora, que a editora prepara o lançamento de um livro com a produção em prosa da poetisa para 2014 — que inclui alguns textos inéditos–, houve uma seleção, feita por Britto. Mas, se o país não está na lista de seus maiores leitores, ao menos pode se orgulhar de ter sido fundamental para uma das poetisas mais importantes do século XX.

Gloria Pires e Miranda Otto participam da entrevista coletiva do filme “Flores Raras”

Flores Raras - Lez Femme

 

As atrizes Miranda Otto e Glória Pires, e o diretor Bruno Barreto, participaram de entrevista coletiva, nesta segunda-feira (5), em hotel de São Paulo, para divulgar o filme “Flores raras“. Com estreia prevista para 16 de agosto, o longa retrata a passagem da escritora norte-americana Elizabeth Bishop pelo Brasil, onde viveu durante os anos 50 e 60, e seu romance com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares.

Miranda viajou da Austrália ao Brasil para falar sobre sua personagem, a poeta Bishop, vencedora do Prêmio Pulitzer de 1956. “Eu me senti sortuda em vir ao Rio e fazer o filme. Quando recebi o e-mail me oferecendo o papel, eu não conhecia muito a história, mas depois de ler o roteiro achei brilhante. Fiquei muito feliz com o convite”, disse. A atriz ouviu gravações de Bishop lendo poesias e viu fotografias para criar a personagem. “Trabalhamos em conjunto para levar esse processo de criação da poesia para as telas sem que ficasse chato”, afirmou.

Apesar do elenco, a produtora Paula Barreto diz que houve dificuldade em encontrar patrocínio por conta da questão da homossexualidade. “O filme custou R$ 13 milhões. Se não fosse a coragem dos nossos parceiros iniciais de apostarem no tema, ele não teria se realizado. O único investidor privado é o Itaú. Ainda temos dívidas que esperamos quitar com o lançamento”, afirma. Paula conta que “Flores raras” já foi comprado para ser distribuído para na Alemanha e Coreia, além de países da Escandinávia. “Nos EUA, ele será exibido na primeira semana de novembro, em cinco cidades norte-americanas, para concorrer ao Oscar, principalmente aos prêmios para as duas atrizes”, aposta a produtora.

Bruno contou que sua mãe, a produtora Lucy Barreto, comprou os direitos para o filme em 1995. “Ela me ofereceu, mas não me interessei. Ela também ofereceu para outros cineastas, como o Hector Babenco, que recusou. Aí ela também já tinha chamado a Glória para ser a Lota, que aceitou”. Barreto disse que, em 2004, ao ver sua ex-mulher (a atriz americana Amy Irving) fazer um monólogo de Bishop nos EUA, sentiu vontade de fazer esse filme.

“Fui ler a poesia dela e comecei a procurar o ângulo da história e o que permeava era a perda. Seria uma história de amor para falar de perda. Conhecia a Miranda do filme do Michel Gondry, ‘A natureza humana’, e foi o casamento perfeito”, afirma. “Meu maior trabalho como diretor foi ouvi-las. Chegou um momento que elas sabiam mais das personagens do que eu. Talvez o fato de eu ter sido casado com uma grande atriz durante 15 anos me ajudou nisso”, completa.

Glória Pires vive Lota, conhecida por idealizar e supervisionar a construção do Parque do Flamengo (ou Aterro do Flamengo), e diz que o que a atrai na escolha de um personagem é justamente o aprendizado. “Eu tenho esse ímpeto da Lota, embora ela seja mais aberta do que eu. Sou uma pessoa comedida, tenho a crença pessoal de que as coisas precisam de tempo para amadurecer”, conta. Glória afirma que o filme estreia em um momento importante, em que há a discussão sobre o casamento gay. “Ele só vem a acrescentar e mostra duas mulheres querendo uma vida comum. O filme desmistifica o universo gay. Elas são seres humanos, com expectativas e medos”, diz a atriz.

Como Lota não gostava de sair em fotos, Glória conta que se baseou em livros que falam sobre a arquiteta. “Alguns relatos se referiam à forma de falar e agir. Embora a condição de homossexual não fosse livre naquela época, ela falava palavrão e tinha intimidade com os peões, uma camaradagem bem masculina”, afirma. Com boa parte do filme falada em inglês, Glória diz que “as cenas de mais emoção” foram as que mais a preocuparam. Sobre a questão da homossexualidade, Glória diz que esse fator “não foi o problema, mas a solução”. “Eu busco desafios. Há 40 anos trabalho como atriz, fazendo TV na maioria do tempo, embora eu tenha sempre tentado fugir às regras, de alguma forma você fica enquadrado no bom e no mau sentido. Foram 17 anos esperando esse filme acontecer. Para mim foi um presente”, afirma.

Bruno aproveitou para elogiar a atriz, com quem seu irmão Fábio Barreto já trabalhou em “O Quatrilho”. “A Glória é um monstro em português, mas não sabia que era em inglês também. Você vê Antonio Banderas e Penélope Cruz, que não vingaram fazendo papéis dramáticos em inglês. É incrível o comando que ela tem”, afirma. Questionado sobre uma possível comparação entre “Dona flor e seus dois maridos”, seu filme de maior sucesso de bilheteria, e “Flores raras”, Barreto brinca: “Quem será o Vadinho? Acho que a Lota é o Vadinho, a Miranda é a Dona Flor e a Mary é o segundo marido, que é mais careta”. O cineasta ainda complementa ao dizer que a música “Fulgaz”, de Marina Lima, é um resumo do relacionamento de Lota e Bishop. “Aquele trecho ‘E a gente faz um país’ mostra exatamente o que era a relação delas”.

 Flores Raras

Miranda Otto conta como foi interpretar Elizabeth Bishop

Rosto conhecido em superproduções hollywoodianas como “Senhor dos Anéis” e “Guerra dos Mundos”, a atriz australiana Miranda Otto recebeu o convite do cineasta brasileiro Bruno Barreto para interpretar a poeta Elizabeth Bishop como uma mistura de presente e desafio. “Flores Raras”, coprodução Globo Filmes que chega aos cinemas no dia 16 de agosto, narra a história de amor entre a americana e arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (vivida por Glória Pires) durante as décadas de 50 e 60.  No Brasil para o lançamento do filme, a atriz falou ao portal da Globo Filmes sobre a adaptação ao trabalho no Brasil e contou curiosidades sobre o processo de reconstrução de sua personagem.

Como foi trabalhar com o Bruno no Brasil? E a experiência de contracenar com atores brasileiros?
Considero uma sorte enorme ter vindo trabalhar no Brasil. Foi diferente de meus outros trabalhos. É uma outra filosofia, um jeito diferente de trabalhar. De certa forma foi um desafio, uma experiência nova atuar num filme brasileiro com personagens tão fantásticos. Foi uma oportunidade incrível que recebi do Bruno poder vir ao Brasil fazer esse filme lindo.

Apesar de falado boa parte do tempo em inglês, ‘Flores Raras’ é um filme brasileiro e o português não deixa de estar presente e alguns diálogos. Como foi trabalhar com essa mistura de idiomas?
Como você disse, pelo fato da maior parte do filme ser em inglês acabou sendo mais fácil. Eu também tive a excelente desculpa de que a Elizabeth Bishop não falava muito bem e nem com tanta frequência.  Durante o processo de construção no set, eu também contei com o excelente suporte dos preparadores que sempre me auxiliavam para cenas de português ajudando minha compreensão e indicando como eu estava indo. Quando tive algum problema sempre pude contar também com a ajuda dos tradutores.

Você chegou a aprender algo de português com o trabalho no filme?

Na verdade muito pouco, basicamente só o que foi falado nos diálogos dele. A questão do idioma acabou sendo natural justamente pela questão da Elizabeth, assim como eu, não saber falar português tão bem assim.

Como foi o processo de construção do personagem? De que forma você se preparou para interpretar a Elizabeth Bishop?
Foram diferentes referências e todas muito ricas. Tive contato com a biografia e história da Elizabeth através de registros de pessoas que participaram da vida dela. Além disso, estudei também através de fotos muito interessantes, de ângulos variados que me deram novas formas de olhar o personagem. Li algumas correspondências dela, inclusive com o Robert Lawell, um dos amigos mais próximos que a Elizabeth teve. Também ouvi gravações de sua voz falando as poesias em diferentes momentos de sua vida. Foi um trabalho de resgate da identidade muito grande, tive acesso a muitas referências.

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