quarta-feira, 10 de julho de 2013

EM RESPOSTA AO MEU GRANDE AMIGO Reginauro Sousa SOBRE SUA OPINIÃO DO DEVER (MORAL?) QUE TEMOS OS MÉDICOS DE RETRIBUIR A POPULAÇÃO DO SUS O QUE ELA NOS DEU DE FORMAÇÃO COM SEUS IMPOSTOS

Existem 2 tipos de deveres, até onde posso perceber: um legal (é a questão dos direitos x deveres) e um moral.

O legal, isto é, que depende da lei, é questão de soberania do povo. Somos todos, por esse aspecto, filhos dessa nação. Nossa liberdade é limitada pelas necessidades dela, pela vontade dela (da nação e não da Dilma). Acredito que realmente a população do SUS deva sentir falta de médicos. É um lamento que ouço por todos os lugares. É uma distorção que sinto no corpo ao atender, no meu posto, muitos pacientes órfãos de médicos em seus postos. Então, se a população reivindica majoritariamente, deve virar lei. As novas gerações devem curvar a cabeça até que o povo tome consciência (acho que vai ser esse o caminho) que só médico não resolve.

Eu, que adoro a idéia de um SUS, tento cumprir o dever médico nessa instância, ensino alunos o que podemos fazer, mesmo sem recursos, o que devemos fazer, discuto política com eles, discuto relação médico-paciente, e sinto falta todos os dias de recursos para ajudar melhor quem me procura. Sinto falta todos os dias de atuar de forma mais integral, com profissionais das outras categorias que estejam do lado para promover ações que, definitivamente, busquem a saúde. Sinto falta de uma estrutura que permita respeito na consulta íntima, material para o exame físico... Detalhe: atualmente como preceptor, trabalho quase como voluntário, haja vista a remuneração. Não estou contratado, recebo uma bolsa-preceptoria. Amigos meus já me xingaram, tenho esperanças...

Às vezes um paciente me reclama que falta isso ou aquilo, eu digo: "Denuncie!". Entendendo, no mesmo instante, no meu coração, que aquela vida ali na minha frente já está atribulada demais com a luta do pão de cada dia para, ainda assim, lutar por um SUS melhor. Não raras vezes é um cuidador solitário de muitos outros da família. "Participe do Conselho Local!", mas esse é dominado em muitos lugares ainda por sofistas sedutores cheios de nepotismo nas veias.

O dever moral, por outro lado, é o mais efetivo, mas não se prescreve, não se obriga. Ele é, essa a definição que mais concordo, um imperativo da razão. Não há esse ou aquele Estado ou essa ou aquela lei (humana), ou ainda, esse ou aquele salário que possa lhe tornar um sujeito moral. "Não tem testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas".

Se o povo brasileiro (tenho que deixar claro: O POVO BRASILEIRO) quer nos obrigar a servi-lo por dois anos antes de querer servi-lo para sempre, só vejo o caminho de cumprir com o nosso dever legal para com essa nação. Mas, o carinho, o cuidado, a benevolência, em uma palavra, o amor com que o tal médico se dedicará para os seus pacientes, esse dever moral nunca poderá ser alcançado por essas vias. Talvez pela do diálogo, talvez pela do melhor ensino, talvez pela do respeito, talvez pela abertura ao outro, talvez... Mas, certamente, não será pela coação escrava de uma imposição exterior.

Terrível dilema esse que nos encontramos. Acho que seria melhor começarmos a colocar computadores com elevada inteligência artificial nos mais diversos postos das periferias e do interior. Custos enormes, mas tem a coisa boa de não reclamar direitos trabalhistas e de dignidade humana. Digita a queixa, ele te pergunta alguns complementos, sai a receita. Tem um filme do James Bond que ele conseguiu reanimar o coração só ele e o carro dele!

Será isso o que O POVO BRASILEIRO quer de seus curandeiros médicos? Tem um frio na minha espinha dizendo que sim. São prescritores. Eu vou supervisionar médicos no interior (onde há médicos!) e a população e a gestão me pedem: mais consultas, mais, mais, mais... mais, mais, mais... A discussão já não deve ser mais com a Dilma, temos que ir às ruas... falar com o povo.

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